Como muitos da minha geração, cresci com os conceitos tradicionais de Dia de Todos os Santos e Dia de Finados, habituado à indumentária mais formal, às visitas aos cemitérios, aos semblantes carregados (quando conquistei autonomia, deixei a hipocrisia e agora vou lá quando me apetece). Não obstante, devo ter sido um aluno pouco atento, porque não me lembro das abóboras fazerem parte. Dizem que é uma coisa moderna, importada das Américas, e que se chama Halloween.
Mas então o que é esse Halloween, que invade os Estados Unidos e o Canadá (e agora a Europa) de abóboras esculpidas, esqueletos dançantes, bruxas esvoaçantes e fantasmas sorridentes?
Importa, antes de mais, saber o significado da palavra em si: Halloween é, na verdade, uma versão abreviada de "All Hallows Even", em português, véspera do Dia de Todos os Santos, o dia em que os Cristãos celebram todos os Santos e Mártires. Simplesmente, em algum momento as pessoas começaram a referir-se a este dia como "Hallowe' en" e, mais tarde, apenas como Halloween.
Seguindo a tradição Judaica, os Cristãos celebram os dias religiosos de pôr-do-sol a pôr-do-sol. É desta prática que deriva a celebração da véspera de Natal, da véspera de Ano Novo, etc. A preceder o Halloween moderno estava a celebração que dava início ao Dia de Todos os Santos e que começava ao pôr-do-sol do dia 31 de Outubro.
Não obstante o seu nome derivar do Dia de Todos os Santos, o Halloween moderno resulta da combinação de diversas tradições, algumas das quais anteriores ao Cristianismo. De facto, uma parte significativa dessas tradições remonta ao Samhain, o Ano Novo Celta.
Samhain significa "o fim do Verão". Neste festival, que tinha lugar por volta do final de Outubro, comemorava-se a passagem de ano dos celtas e iniciava-se o inverno, uma das duas estações do ano dos celtas. [o inicio da outra estação, o verão, é celebrado no festival de Beltane]
O Samhaim era um momento de mudança. Os Celtas dependiam grandemente da criação de gado; com a mudança de tempo e a chegada do frio, os pastores desciam com os rebanhos das montanhas para pastagens mais próximas. Estas alterações tinham um impacto significativo nas rotinas diárias. Nos meses de Inverno, todos se mantinham em casa (ou perto), dedicando-se a trabalhos artesanais e passando tempo em conjunto. Aconteciam, também, as ultimas colheitas.
Para os Celtas, esta era uma época mágica, em que o mundo dos vivos se aproximava do mundo dos morto e as almas dos mortos retornavam a casa para visitar os seus familiares, em busca de alimento e para se aquecerem no fogo da lareira. Muitas práticas do Samhaim estavam relacionadas com esta crença; algumas delas ainda se reflectem no Halloween moderno.
[para evitar um post ainda mais denso de informação, brevemente será publicada a segunda parte da história do Halloween]